Daniel Barenboim

Daniel Barenboim Schuster

Buenos Aires, 15 de novembro de 1942

Pela atuação política, social e musical, Barenboim é hoje o músico mais importante do mundo. Sua história começa na Argentina, onde o jovem descendente de judeus russos (asquenazes) estreou em 1950 no Teatro Colón com apenas 7 anos de idade, tocando piano. Dois anos mais tarde, seus pais se mudam para Israel.

Em 1954 ocorre um evento que será determinante na história de vida e carreira de Barenboim, e sobretudo influirá em seu papel político: em Salzburg, num curso de verão para aperfeiçoar-se em regência com Igor Markevich, ele conhece e tem a chance de tocar para seu ídolo maior, o monstro-sagrado da batuta Wilhelm Furtwängler. Impressionado com o talento do jovem pianista de 13 anos, o velho maestro o convida para solar o Concerto n. 1 de Beethoven junto à Filarmônica de Berlim. Passada menos de uma década da sangüinária Segunda Guerra, o pai de Barenboim, Enrique, recusou o convite. Era muito cedo para um jovem judeu se apresentar com aquela que havia sido a "Orquestra do Reich". Se Barenboim alimentou a expectativa de um dia tocar com Furtwängler, foi frustrado pelo destino logo depois, em novembro de 1954, quando seu modelo musical morreria em Baden-Baden. Em 1955 ele estaria em Paris para estudar com Nadia Boulanger (a primeira maestrina da história). A esta altura, já havia começado a gravar e a fazer turnês internacionais como solista.

Em 1967 ele se casa com a fenomenal violoncelista inglesa Jacqueline Du Pré, com quem deixou gravações memoráveis dela como solista e ele acompanhando ora regendo a Orquestra de Câmara Inglesa (primeira orquestra que ele regeu, em 1966), ora ao piano. Em 1973 ela interrompeu a carreira aos 28 anos por conta de uma esclerose múltipla, que iria paralisá-la aos poucos até a sua morte em 1987. Mas antes que ela morresse ele já tinha dois filhos com a pianista russa Elena Bashkirova (ex-mulher do violinista Gidon Kremer). Du Pré faleceu sem saber que o marido já tinha uma segunda família. Logo após sua morte, Barenboim e Bashkirova se casaram e estão juntos até hoje.

Seu primeiro posto importante foi como diretor da Orquestra de Paris, de 1975 a 1989. Depois sucedeu a Georg Solti na Sinfônica de Chicago, sendo diretor artístico desta de 1991 a 2006. Desde 1992 é o diretor da Ópera do Estado em Berlim e de sua tradicional orquestra, a Staatskapelle, que o nomeou regente vitalício desde 2000. A partir de 2011 tem acumulado a Ópera de Berlim com a direção da mais prestigiada casa de óperas do mundo, o Teatro Scala em Milão.

Mas seu grande feito está na criação da Orquestra "do Divã" do Oriente-Ocidente em 1999. Politicamente atuante, ele já havia criado grande polêmica em 1991 ao programar Wagner numa turnê da Staatskapelle a Israel. Membros do Parlamento tentaram impedir, e ele se viu envolvido numa celeuma na qual foi tratado como inimigo do povo judeu. Talvez o episódio com Furtwängler possa explicar seu desprezo por questiúnculas políticas, por mais que historicamente seja necessário evitar a música de um anti-semita que foi usada como trilha-sonora do holocausto de seu povo na Alemanha nazista. O resultado de seu empenho em eliminar as fronteiras culturais e políticas é a Orquestra "Divã", uma iniciativa única e respeitável.

Artisticamente ele gera outras tantas polêmicas, por seu estilo ao reger ou tocar. Ignorando a incensada escola historicista, que quer ver respeitadas as práticas de execução musical da época de cada compositor, ele tem um jeito próprio de interpretar, que está diretamente ligado ao seu ídolo Furtwängler e aos grandes nomes do início do século XX, como Mengelberg; ou seja, uma era na qual o tempo musical era muito mais flexível, e o efeito desejado, de uma música poderosa e subjetiva, ao contrário da estreita objetividade e rapidez que impera em nossos dias. Ele permanece como um exemplar raro, capaz de produzir um Beethoven — seu compositor predileto — impactante e grandiloqüente, fazendo sobreviver um maneirismo musical maravilhoso, emotivo e sedutor.

© RAFAEL FONSECA